PARA

Portugal, 2003.

“As fotografias de Valter Vinagre da série “PARA” não mostram gente, mas é decididamente de gente que falam. Fazem-no de um modo subterrâneo, como subterrâneo é o fenómeno inscrito em todas elas. Uma homenagem fúnebre a gente que desapareceu do mundo dos vivos numa fracção de segundos. Porque a estrada estava mal pavimentada, porque o “relevê” da curva estava “ao contrário”, porque havia óleo ou chuva na estrada, porque alguém não mediu bem a distância para uma ultrapassagem, porque alguém se distraiu a acender um cigarro ou a mudar um CD. Porque, porque, porque… as justificações são aqui pouco importantes. Estas imagens não penetram o círculo jornalístico e imediato da morte. Enunciam uma dor abstrata, mas não se apartam dela…

Celso Martins, Lisboa Novembro de 2006
in, Para memória futura. Texto para o livro “PARA”. Ed.Assirio&Alvim, Lisboa
2006